terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O Aborto vivido na 1º pessoa...

Quando era muito jovem, dizia que gostava de ser mãe aos 25 anos. Na Adolescência, mesmo quando insistia que nunca iria casar, esta ideia permanecia.
Julgo que foi coincidência quando o meu relógio biológico despertou, precisamente, aos 25 anos... ou talvez não!


A minha relação com o Ricardo já tinha 4 anos de existência, já tinhamos adquirido a nossa casa e, apesar de nos termos um ao outro, sentiamos falta de mais alguém para nos completar, de mais um membro para a nossa família: um filho!
Após alguns meses sem sinal da cegonha, desistimos de tentar, acreditando que talvez ainda não fosse a altura certa. Comecei a tomar a pílula e, ao esquecer-me dela durante 3 dias seguidos, fiquei grávida.
Completei os 26 anos de idade grávida de 2 meses.
Não sentí enjôos ou outros sintomas desagradáveis comuns à gravidez, excepto os vómitos quando já não havia vida no meu ventre, e eu não o sabia porque não sentí esta morte...
Já passava alguns dias das 12 semanas de gravidez quando fui fazer a Ecografia. Eu estava radiante, e o Ricardo nervoso (mas feliz). Ambos desconheciamos a fatalidade por que iriamos passar...
Quando olhei para o ecrã e ví que o embrião não se mexia, fiquei logo alarmada e perguntei à médica o que se estava a passar. Ela fez um longo silêncio... parecia uma tormentosa eternidade...
O Ricardo levantou-se da cadeira e, num misto de revolta e preocupação, dirige-se à médica:
- Mas, afinal, o que se passa?
- Lamento... o embrião não tem batimentos cardíacos... não sobreviveu...
Ela ainda tentou explicar os motivos que poderiam ter causado aquele aborto, mas eu estava muda e surda, perdida nos meus pensamentos. Revia todos os momentos da gravidez para tentar perceber onde é que eu tinha errado, o que eu tinha feito mal, como tinha morto o meu bebé...
Desatei a chorar descontroladamente. Ninguém me conseguia consolar porque eu estava presa àquele pesadelo, e ninguém me conseguia "acordar".
Na Maternidade, onde fiquei internada durante 3 dias, as médicas e enfermeiras, por entre Ecografias e colocação de comprimidos no meu Útero, provocaram-me a expulsão do embrião.
Eu sentí dores horríveis - "são as dores de parto", me explicaram - e ví o meu bebé morto. Eu não queria acreditar que aquele pequenininho ser, com cabeça, braços, pernas, mãos e pés, estava morto...
No dia da alta, uma médica veio falar comigo e com o Ricardo. Explicou que o embrião tinha morrido devido a uma incompatibilidade cromossómica, e que tinha sido a Natureza a remediar a sua falha ao tirar-lhe a vida. Se tivesse sobrevivido, teríamos tido um bebé com graves deficiências.
A médica também nos deu esperança ao dizer que nós podíamos tentar novamente ter um bebé, ao fim de 2 meses de repouso, porque a probabilidade de vir a ser saudável continuava a ser boa.
A minha mãe, com a concordância de outras pessoas que me conhecem, me disse que o que me aconteceu foi obra de Deus, porque eu teria continuado com a gravidez mesmo sabendo das deficiências do bebé (se ainda estivesse vivo), e assim fui poupada a momentos de sofrimento...
Sabe, eu sempre tive uma grande admiração e compaixão de mães de filhos deficientes, pois elas têm uma capacidade de amar descomunal!...


Ao fim de algum tempo consegui engravidar outra vez! Completei os 27 anos grávida de 4 meses! É uma menina, e tudo indica que é perfeitinha!... Eu e o Ricardo, obviamente, estamos radiantes e muito agradecidos a Deus por nos dar uma oportunidade de podermos concretizar o nosso sonho de sermos pais!...

Tenho tudo sobre a outra gravidez guardado numa caixa, destinada apenas para este propósito. De vez em quando não resisto em mexer e reviver esta primeira experiência...
Eu digo que fui visitada por um anjinho, por um curtinho espaço de tempo, que me veio demonstrar que apesar de tudo o que passei na minha vida, ainda aqui estou, cada vez mais forte e lutadora!
Meu anjinho, eu e o papá nunca te esqueceremos!...

Nota: As fotografias são pessoais. Agradecia que não fossem utilizadas sem autorização prévia.